AUTOPSICOGRAFIA
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor,
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Nãos as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.¹
1. Publicado na revista Presença, n.36, novembro de 1932.
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