quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Sobre a Corrupção...

     
     Na atualidade, o brasileiro é visto por todos como um “modelo” de corrupção: externamente, somos vistos como criminosos, bandidos, páreas da sociedade; internamente, as pessoas dizem viver em um país governado por corruptos do mais alto escalão. Entretanto, será mesmo que só os governantes são corruptos dentro desse vasto país?
     Para responder a essa pergunta, foi feita, no ano de 2006, uma entrevista com alguns brasileiros, que responderam a quatro perguntas de caráter normativo a respeito da honestidade do brasileiro. Dessas perguntas, surgiram dados empíricos, que mostraram o quão paradoxal é a opinião do brasileiro sobre a questão “honestidade”.
     Na primeira pergunta, a maioria dos entrevistados (64%) considerou que a maior parte dos brasileiros é honesta, ao passo que apenas 28% considerou que a população, em sua maioria, é desonesta.
     A segunda pergunta foi relacionada à classe política do Brasil. Foi perguntada qual a melhor característica que serviria para descrever essa classe: ela seria honesta ou desonesta? A maioria dos entrevistados (82%) respondeu que seria “desonesta”, e somente 12% respondeu que ela é honesta.
     Continuando o questionário, foi perguntado se a pessoa entrevistada se considerava honesta ou desonesta. Evidentemente que a maioria (97%) respondeu que se considerava honesta, e apenas 2% respondeu o contrário. O grande paradoxo dessa pesquisa de campo se mostra nas respostas dadas a última pergunta, que indagava se o comportamento de dar uma “caixinha” ou “gorjeta” para se livrar de uma multa era um comportamento, no Brasil, de quase todos, da maioria, da minoria, ou de quase nenhum brasileiro. Os dados obtidos foram, respectivamente, 25%, 51%, 17% e 5% para cada uma das opções mencionadas.
     Então, com base nesse questionário, pode-se inferir que, embora o Brasil seja um país essencialmente corrupto, ou, como se costuma dizer, “corrupto por natureza”, sua população considera-se, em sua maioria, um das mais honestas possíveis (pelo menos até aparecer uma oportunidade de tornar-se corrupta, como, por exemplo, na questão da gorjeta para evitar uma multa), ao passo que, toda a culpa da desonestidade no país recai sobre a classe política.
     Indubitavelmente, os políticos brasileiros são corruptos; entretanto, vale-se ressaltar que, um dia, esses mesmos políticos foram cidadãos “normais”, como qualquer um de nós. Isso não significaria, portanto, que todos somos desonestos? Ou será que só nos corrompemos após entrarmos na vida política?
     A verdade é que todos os habitantes do Brasil são, mesmo que minimamente, corruptos. Quem nunca tirou uma xérox de algo? Quem jamais fez algo meio desonesto, porque ninguém estava olhando, ou porque tinha certeza de que não seria “pego”? Certamente que todos já fizeram algo ao menos parecido com isso...
     Talvez alguém, ao falar sobre esse assunto, possa afirmar que as crianças e os loucos dificilmente fazem maldade, e só são desonestos quando alguém os influencia a isso... Realmente, a corrupção só existe porque as crianças são influenciadas pelos mais velhos, de forma que, sem essa influência, a corrupção não existiria (ou existiria em um grau menos elevado), pois esta nada mais é do que um hábito, e, como se sabe, os hábitos são adquiridos pela prática, até que, de tanto serem utilizados, terminam por tornarem-se próprios da natureza humana.
     Retomando o tema da corrupção política, reflitamos: os políticos são realmente os culpados pela desonestidade no Brasil? Ou a culpa é da população, por aceitar subornos e “agrados” e eleger os corruptos que representarão o país? Ou, ainda, os culpados somos todos nós, tanto cidadãos quanto os políticos, por darmos o mau exemplo àqueles que futuramente assumirão nossos lugares (os jovens)?
     Creio que os culpados somos todos, uma vez que, não bastando corrompermos a nós mesmos, ainda terminamos por corromper até mesmo a futura geração.
     Frequentemente, as crianças escutam os adultos dizerem: “vire uma pessoa honesta e ‘de bem’, pois o futuro do país está em suas mãos”. Ora, como é possível que eles se tornem honestos, se não vêem mais ninguém fazendo o mesmo? Você faria algo que nunca viu ninguém nem ao menos tentando fazer? Claro que existem exceções, mas, em 99.9% dos casos, só fazemos algo porque vimos esse algo ser feito por outra pessoa.
     Existem também, alguns extremistas que dizem que, como não existe ninguém com índole suficiente para assumir o país, não existe razão nem ao menos para participar da vida política em tal lugar. Já outros falam que, mesmo tendo gente capacitada para tanto, essa minoria nem ao menos chega a se candidatar, ou, se o chega, não será eleita.
     Infelizmente, essa é a [triste] realidade do Brasil. Entretanto, os brasileiros não devem se desesperar, pois ela pode modificar-se! Para tal, basta que todos assumamos nossas responsabilidades e não nos tornemos seres passivos ante a política, afinal, como já dizia Aristóteles¹, “tanto na ação como na passividade é possível participar acidentalmente da justiça e, do mesmo modo, evidentemente, da injustiça”. Não sei quanto a vocês, mas eu, pessoalmente, prefiro ir à luta, mesmo correndo o risco de perder tudo, do que permanecer estático, como os pobres de espírito, que não lutam, mas também não são merecedores de sua vitória, que não conhecem a dor da derrota, nem a glória de ressurgir dos escombros, essas pessoas, ao final de sua jornada na terra, não agradecem a Deus por terem vivido, mas desculpam-se perante Ele, por terem apenas passado na vida...
     Pode parecer um sonho infantil, mas, se sonhado por todos, pode vir a se tornar realidade. Então, como forma de incentivar os desmotivados a perseguirem tal sonho, deixo escrito aqui a parte introdutória do livro “Sonho de uma noite de verão”, de William Shakespeare:
     “Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isto não tem muita importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que as pessoas sonham sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado”.

1-  ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco. Livro V, item 9, p.121. Editora Martin Claret, 2004.

3 comentários:

  1. Alisson;

    Muito bom dia. Olha, descobri seu blog através do blog do Dr. Gerivaldo. Gostei muito. Também sou acadêmico e procurando sempre aprender eu recorro aos blogs. Motivo pelo qual, eu já me tornei seguidor do seu, pois tenho absoluta certeza que estarei aprendendo muito com você. Gostaria, dessa maneira, que você visitasse meu blog e, se possível, colocar sua foto lá como meu seguidor. Estarei constantemente visitando seu blog e vou incluí-lo na minha lista de blogs amigos.

    Um abraço e parabéns pelo blog!

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  2. Cara gostei da postagem,eu escrevo sobre política.Gostaria que você visita-se o meu blog
    http://painb.blogspot.com/
    Desde de já sou seu seguidor,por favor se gostar do meu blog também siga-me

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  3. Fico lisonjeado em tê-los como seguidores... Também os estou seguindo. Espero que estabeleçamos uma grande amizade ^^.

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