NATAL
Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.
E é tão lento o teu soar
Tão como o triste da vida
Que já a primeira pancada
tem o som de repetida.
Por mais que me tanjas perto,
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho,
Soas-me na alma distante.
A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto. ¹
1. Publicado na revista Atena, n.3, Dezembro de 1924. Em carta a João Gaspar Simões, Fernando Pessoa diz que o sino da sua aldeia é o da Igreja dos Mártires, no Chiado, e chama de aldeia o Largo de São Carlos, em Lisboa, onde nasceu.
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