
ALTA CIRURGIA
O cão com dois corações
vagueia pela cidade:
um coração de artifício
e o coração de verdade.
Exulta a ciência, que obrou
tamanha curiosidade:
metade é glória da URSS,
do Brasil a outra metade.
Se o cão é a doçura mesma
em seu natural, que há de
mais carinhoso que um cão
de dupla cordialidade?
Não pára aí, no propósito
de servir à humanidade,
a cirurgia moderna,
gêmea da publicidade.
Já pega de outro cãozinho
com a maior habilidade
(não vá um gesto fortuito
lembrar o Marquês de Sade).
Na carne do bicho abrindo
uma vasta cavidade,
implanta-lhe outra cabeça,
que uma não é novidade.
Cão bicéfalo: prodígio
que nos infla de vaidade.
Nem o cérebro eletrônico
o vence em mentalidade.
Se nos furtam dois ladrões,
dois latidos; acuidade
maior, rendimento duplo:
viva a produtividade.
Dois cães que valem por quatro,
"preparou" a Faculdade,
sem perceber entretanto
do Brasil a realidade:
tanta gente sem cabeça
merecia prioridade,
e ao cão, que já tem a sua,
essa liberalidade.
E o coração, esse, é pena
dá-lo ao cão, que é só bondade,
quando os doutores do enxerto
tinham mais necessidade.
vagueia pela cidade:
um coração de artifício
e o coração de verdade.
Exulta a ciência, que obrou
tamanha curiosidade:
metade é glória da URSS,
do Brasil a outra metade.
Se o cão é a doçura mesma
em seu natural, que há de
mais carinhoso que um cão
de dupla cordialidade?
Não pára aí, no propósito
de servir à humanidade,
a cirurgia moderna,
gêmea da publicidade.
Já pega de outro cãozinho
com a maior habilidade
(não vá um gesto fortuito
lembrar o Marquês de Sade).
Na carne do bicho abrindo
uma vasta cavidade,
implanta-lhe outra cabeça,
que uma não é novidade.
Cão bicéfalo: prodígio
que nos infla de vaidade.
Nem o cérebro eletrônico
o vence em mentalidade.
Se nos furtam dois ladrões,
dois latidos; acuidade
maior, rendimento duplo:
viva a produtividade.
Dois cães que valem por quatro,
"preparou" a Faculdade,
sem perceber entretanto
do Brasil a realidade:
tanta gente sem cabeça
merecia prioridade,
e ao cão, que já tem a sua,
essa liberalidade.
E o coração, esse, é pena
dá-lo ao cão, que é só bondade,
quando os doutores do enxerto
tinham mais necessidade.
GENIAAAAAAAAAL ! MESTRE DRUMMOND !
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