quinta-feira, 10 de junho de 2010

Obrigado - Carlos Drummond de Andrade



OBRIGADO

Aos que me dão lugar no bonde
e que conheço não sei donde,

aos que me dizem terno adeus,
sem que lhes saiba os nomes seus,

aos que me chamam deputado
quando nem mesmo sou jurado,

aos que, de bons, se babam: mestre!
inda se escrevo o que não preste,

aos que me julgam primo-irmão
do rei da fava ou do Hindustão,

aos que me pensam milionário
se pego aumento de salário

- e aos que me negam cumprimento
sem o mais mínimo argumento,

aos que não sabem que eu existo,
até mesmo quando os assisto,

aos que me trancam sua cara
de carinho alérgica e avara,

aos que me tacham de ultrabeócia
a pretensão de vir da Escócia,

aos que vomitam (sic) meus poemas,
nos mais simples vendo problemas,

aos que, sabendo-me mais pobre,
me negariam pano ou cobre

- eu agradeço humildemente
gesto assim vário e divergente,

graças ao qual, em dois minutos,
tal como o fumo dos charutos,

já subo aos céus, já volvo ao chão,

pois tudo e nada nada são.¹

1. ANDRADE, Carlos Drummond de. Carlos Drummond de Andrade: poesia e prosa. 8. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.
 

Um comentário:

  1. pode me ajudar a explicar esse poema? tenho que fazer isso para o trabalho de literatura

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